quinta-feira, 3 de maio de 2007

Raízes da contracultura: "De volta para o futuro"

Decidimos entrevistar Luiz Carlos Maciel quando soubemos que ele era o editor responsável pela edição brasileira da revista Rolling Stone. Mais tarde, pesquisando, descobrimos que ele tinha uma coluna chamada Underground no Pasquim e mais: Maciel era o “guru da contracultura”. Quando o conhecemos, entendemos o apelido. Agora, que terminei de ler a coletânea de textos “De volta para o futuro”, eu faço referência:

- Obrigada, Luiz Carlos Maciel, por iluminar nosso caminho.

Não se engane pela capa kitsch e pelo pequeno número de páginas. “De volta para o futuro” é uma coletânea de grandes textos de Maciel, escritos para os livros Nova Consciência e Morte organizada, além de colunas do Pasquim. No prefácio, escrito em 2004, o autor resume o espírito de sua geração:

“Não. Não alcançamos a felicidade. Estávamos provavelmente mais perto dela nas décadas abertamente revolucionárias da juventude da minha geração, apesar da violência das repressões externas e internas que então caracterizavam a experiência de estar vivo. Havia um instinto saudável que exigia a transformação, que queria mudar o mundo e a vida em todos os níveis. A primeira manifestação desse instinto foi política mas, em seguida, ele alcançou o comportamento, a postura existencial e a própria dimensão espiritual da experiência de viver”.

Hippismo ingênuo
Maciel estudou nos EUA e se interessou pela contracultura internacional. “Para a contracultura, a razão humana é mais ampla e compreende tanto as imagens dos sentidos quanto a imaginação e intuição”, define. Seu interesse foi classificado pelos intelectuais como um “hippismo ingênuo”. Afinal, como alguém que havia estudado o complexo colonial da cultura brasileira poderia se afundar na cultura estrangeira? Os intelecuais daqui diziam que a contracultura internacional era fruto do “estrangulamento existencial promovido pelas modernas sociedades industriais” e que, por isso, não fazia sentido num país subdesenvolvido como o Brasil. Mas Maciel rebate: o complexo colonial é a assimilação passiva e acrítica – e o que ele pretende é uma compreensão profunda e, a partir daí, a crítica.

Para contar a história da contracultura mundial – e depois adaptá-la à realidade nacional, e à sua própria interpretação – Maciel começa falando da “Bomb Culture”. A sociedade pós segunda guerra cresceu sob temor constante da destruição absoluta – e foram os protestos contra a bomba atômica que ocuparam os jovens intelectuais e artistas antes dos Beatles, a tal beat generation. O símbolo da paz, disseminado pelos hippies mundo afora, é dessa época. O termo “Bomb Culture” é um título de um livro do poeta, músico e pintor Jeff Nutall, que explica o underground partindo de quatro trilhas: música pop, protesto, arte e comportamento existencial marginal do século XX. “Foi a fusão dessas correntes que resultou, com as drogas psicodélicas, no underground, cuja eclosão é assinalada em 1967, pelo surgimento dos hippies e do flower power”, explica Maciel.

A contracultura tem uma série de elementos constitutivos – e o autor fala sobre vários, ao longo dos textos. A seguir, vou tentar explicar resumidamente alguns deles.

As comunidades hippies
Se a idéia da contracultura é criar uma nova sociedade, é preciso que a família - a base das relações sociais - também mude. Para falar das organizações familiares, Maciel evoca Wilhelm Reich, em seus estudos sobre as comunas na união soviética. “Essas comunidades são a forma familiar do futuro. Elas se caracterizam por sua estrutura não-autoritária, pelas relações livres e não compulsivas entre seus membros e pela ausência de repressão sexual”, explica.


Geração mutante
Timothy Leary dizia que a juventude de sua época era composta por seres mutantes, que eram uma guinada no processo de evolução da espécie. Por isso, acabou sendo expulso da faculdade onde lecionava. Maciel explica que, para Leary, “o traço novo mais importante da geração era a vocação religiosa, a tendência natural e espontânea para a experiência mística da consciência cósmica”.

E no Brasil...
A contracultura por aqui, que é o que mais nos interessa, teve regras e características próprias. Maciel diz que Gilberto Gil, em 1969, “forneceu um fundo filosófico influenciado por essas correntes teósoficas ao fenômeno social novo e surpreendente do aparecimento de nossos primeiros hippies pelas estradas do país”. O próprio autor conta que encontrou alguns deles viajando de automóveis – e eles não leram Leary, nem conheciam Buda – eram a resistência tupiniquim, aos modos daqui, às amarras da sociedade.

Eles acreditavam na existência de uma nova geração no planalto de Brasília e sua influência religiosa não estava ligada ao hinduísmo ou ao budismo, mas a correntes ocidentais, como a astrologia. No Brasil, devido à repressão, a imprensa underground era praticamente inexistente, ao contrário dos EUA. Por isso, por aqui, os “ensinamentos da contracultura” eram passados oralmente. “A informação chega pelo ouvido, através de discos de rock ou de papos que, através de um acelerado processo de associação de idéias, desenvolvem-se as formulações mais bizarras e exóticas”, explica Maciel. Contracultura à moda brasileira.

O “segredo transmitido de boca em boca” fazia com que a nossa contracultura crescesse no “segredo e no silêncio”. E o autor dizia que isso era extraordinário: “nesse exato momento, uma alteração profunda de ordem social e cultural se desenvolve, sem análises, sem discussões, sem estudo e – o que é incrível – sem o conhecimento da maioria da população”. E isso define, em grande parte, o recorte que estamos dando ao nosso trabalho: ao que permaneceu esquecido pela maioria.


Em breve, publicaremos alguns trechos da recém-transcrita entrevista. E paz e amor pra você também, Maciel!

3 comentários:

Anônimo disse...

CONTATO DO MACIEL

É possível passar o contato (telefone ou email) do Luiz Carlos Maciel?
Meu email é: josuejornalista@yahoo.com.br
Valeu.

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

Depois de ler recorrentemente um sem-número de referências a Luis Carlos Maciel, meu interesse pelo "guru", somado ao interesse por toda experiência relacionada à Contracultura no Ocidente e no Brasil em particular, despertou com ânimo sem precedente.
Tendo já lido "De volta para o futuro", "Negócio seguinte", "Eu e eles" e "Anos 1960", seria de grande ajuda se pudessem me passar, caso tenham, qualquer contato com o "guru da contracultura" em terrar tupiniquins!
Meu email: pauloglaysonlopes@hotmail.com