sexta-feira, 30 de março de 2007
Psicodelia Brasileira recomenda: Lanny Gordin Duos
Hoje, sexta, os convidados são Max de Castro, Edgar Scandurra e Junio Barreto; sábado, Max de Castro, Jards Macalé e Péricles Cavalcanti; e domingo, com Arnaldo Antunes, Chico Cesar e Fernanda Takai.
O show acontece às 21h e custa R$ 30. Estudantes pagam meia.
Auditório Ibirapuera
Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portão 2
Parque Ibirapuera
São Paulo
Baratos Afins
Em novembro do ano passado, quando o projeto nem tinha sido passado pro papel, demos um pulo na Baratos Afins, a lendária loja/selo do igualmente lendário Luiz Calanca. Em duas horas de papo, ele deu uma aula, abriu a caixa de memórias e a agenda telefônica. Foi incrível. Segue um trecho da conversa:
"A psicodelia começou mesmo em 65, 66, com as bandas de garagem que começaram a adicionar colagens nas suas canções. Eu acho que teve uma expansão do movimento com a introdução do lsd no mercado americano. O lsd começa a abrir a cabeça de uma tal maneira que os caras começaram a fazer todas aquelas colagens inspiradas nas reações do ácido. Eles pregavam essas músicas de protesto, tinha o movimento hippie, que foi sufocado por eles próprios porque começou a virar comércio. A indústria começou a explorar a cultura hippie então eles mesmos enterraram o movimento. Aqui no Brasil tinha um reflexo disto, obviamente, sempre meio atrasado mas tinha. Então aqui muitas bandas que a gente chama de bicho grilo as primeiras sintonias ligadas com essa turma de fora.
Calanca, no aconchego de seus discos
Embora aqui ninguém falava assim “ah tô fazendo um som psicodélico”, na verdade estavam vivendo aquilo no mundo, em protesto à guerra do Vietnã, e foi justamente nesse momento que tava acontecendo tudo junto, o movimento flower power, as músicas de protesto, o movimento hippie, foi tudo em 66 até 69, esses três anos aí aconteceu muita coisa, inclusive o movimento black. Eu poderia arriscar que é a televisão sabe, que começou a chegar, a ficar popular, chegar a todos os lugares. Era isso mesmo, quando a gente acordou e via tudo aquilo no mundo, aí o Brasil começou a absorver tudo isso e, nesse momento, estavam acontecendo os festivais da Record , com Caetano, Mutantes, Jorge Ben, Ronnie Von, e esses caras eram nossos porta vozes".
quinta-feira, 29 de março de 2007
VÍMANA: Muito além dos cachos de Lulu Santos
terça-feira, 27 de março de 2007
Correndo
"Talvez os barulhos da metrópole tenham contribuído. Mas o fato é que, antes de gerar os Mutantes, a cidade de São Paulo ouviu em primeira mão os ruídos iniciais da psicodelia brasileira. Segundo aponta o jornalista Fernando Rosa, no site Senhor F, um dos mais completos na Internet sobre o assunto, “as primeiras manifestações psicodélicas ocorreram em São Paulo, por meio de grupos como The Beatniks, Os Baobás e The Galaxies. (...)
Passada a fase inicial, a partir de 1974 a psicodelia brasileira é misturada a novos ingredientes sonoros. Depois do rock and roll e da MPB, foi a vez do jazz, do erudito, da música regional e do rock progressivo experimentarem o gosto ácido da lisergia. Surgem então grupos originários desta receita: Som Nosso de Cada Dia, A Barca do Sol, Vímana - integrado por Ritchie, Lobão e Lulu Santos -, Veludo, Ave Sangria, Som Imaginário, Flaviola e o Bando do Sol. (...)
segunda-feira, 26 de março de 2007
Suficiente, com restrições - um pouco de Ronnie Von
A Faculdade Cásper Líbero tem uma política estranhíssima de avaliação de Projeto Experimental. Para podermos, teoricamente, começar a fazer o TCC nosso pré-projeto deve ser avaliado por um parecerista - que deve ser escolhido por sorteio (vcs entenderão o porquê disso a seguir) e este diz se o seu trabalho é consistente o suficiente para seguir no processo.
Nosso parecerista foi nosso professor no segundo ano. Ele é jornalista com mais de duas décadas de atividade profissional, foi editor de assuntos internacionais da Veja, da Época e da Folha de S. Paulo. Também foi editor da Superinteressante e Exame. Ele leciona na Cásper desde 1997. O "diagnóstico" dele foi: Suficiente, com restrições. Não vamos colocar todo o texto, mas resumindo, ele disse que optamos por um caminho “original”, fez algumas considerações favoráveis, outras não, e disse que quer ler nossas histórias. Ok. Mas eis o inesperado:
"Posso estar enganado nas minhas observações, mas sinto que que (sic) as autoras não pesquisaram o assunto com devida profundidade. Ronnie Von, por exemplo, nunca teve nada a ver com tropicalismo, psicodelismo (sic) ou qualquer coisa do gênero. Ao contrário, no linguajar da época, o "Pequeno Príncipe" era a caretice em pessoa (um traço que ele preserva até hoje...)".
Infelizmente, o professor responsável por avaliar o nosso projeto está enganado em suas observações. Ele aprovou, ok, e ele tem o direito de fazer suas considerações. Mas o professor ecoou o senso comum sobre o Ronnie Von. Era ele quem deveria pesquisar um assunto ao assumir a responsabilidade de avaliar um projeto.
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Um pouco de Ronnie Von
Em meados da década de 60, Ronnie Von era apresentador do programa "O pequeno mundo de Ronnie Von". Exibido pela Record aos sábados, o programa era a alternativa da juventude ao "Jovem Guarda", programa de Roberto, Erasmo e Wanderléa, que ia ao ar aos domingos. O programa de Ronnie abria espaço para novas bandas. Ali tocaram pela primeira vez Os Mutantes, que acabaram sendo apadrinhados pelo apresentador. Quando apareceram, não tinham nem nome e foi Ronnie quem apresentou a sugestão (a idéia foi de outro produtor), baseada em um conto de ficção científica que ele, Arnaldo, Sérgio e Rita gostavam.
não negam a psicodelia e a influência da tropicália
Pela sonoridade diferente, esses discos foram uma vírgula na carreira de Ronnie. Não fizeram sucesso e ficaram esquecidos por décadas. Isso explica, em parte, a opinião baseada no senso comum do nosso professor.
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A jornalista Flávia Durante, apaixonada pesquisadora da fase psicodélica de Ronnie Von, está fazendo um intenso trabalho de divulgação daqueles discos. Em 2004, surgiu a idéia de fazer um tributo à Ronnie, só com bandas novas. Muitas bandas abraçaram a idéia e, há poucas semanas, a coletânea saiu do papel. Em entrevista, ela fala mais sobre o trabalho.
Você conheceu a fase psicodélica do Ronnie com o Video Hits. Como foi a pesquisa para achar os outros discos?
Com o bom e velho Soulseek! Tenho um vasto material dessa fase do Ronnie que peguei por lá. Mas vou comprar todo o catálogo que está sendo finalmente relançado pela Universal!
Porque essa fase obscura do Ronnie caiu no esquecimento?
Porque a imagem do Ronnie ficou muito associada à fase brega, de "Cachoeira" e tal.
Como foi viabilizado o projeto da coletânea?
Tudo na fé e na boa vontade dos amigos! A idéia surgiu na comunidade sobre o cantor que criei no Orkut em 2004. Muitas bandas se empolgaram com a idéia e logo se ofereceram mas depois sumiram! Então tive que recomeçar todo o cast do zero. Selecionei as bandas, cobrei a entrega dos prazos, revisei os textos, separei os contatos, procurei um servidor gratuito, implorei aos amigos por um design na brodagem... Por isso demorou tanto pra sair. O site Recife Rock ofereceu a hospedagem e o belo design foi feito pelo gaúcho Gabriel Von Doscht, que também participa do tributo com a banda Os Vilsos.
Como foram selecionadas as bandas participantes? Elas conheciam as músicas?
Algumas se ofereceram na própria comunidade e outras eu convidei. Algumas não conheciam muito o trabalho dele dessa fase mas quando fiz o convite se interessaram e viraram fãs na hora.
O que o Ronnie Von acha da coletânea?
Mantenho contato com o Léo Von, filho do Ronnie, pelo MSN, o conheci pelo Orkut. Quando o site ficou pronto mostrei pra ele, que logo mostrou pro pai! Diz o Leo que o pai adorou o resultado! Mas antes, quando ele soube da idéia, já havia ficado muito emocionado! A maior ressentimento de sua carreira era não ser reconhecido pela qualidade de seu trabalho. Felizmente agora esse erro terrível está sendo sanado.
Saiba mais e baixe os dois volumes da coletânea: www.ronnievon.com.
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Tomara que nosso professor avaliador mude de idéia.
sexta-feira, 23 de março de 2007
Mistério do planeta
Talvez o único ponto de concordância entre eles seja a trupe dos Novos Baianos. Todos adoram e colecionam histórias da comunidade hippie num apê em Botafogo. Mas isso eles explicam melhor nas entrevistas. Por enquanto, um dos vídeos lindos extraídos do documentário de Solano Ribeiro sobre o hippies de Botafogo/Jacarepaguá.
segunda-feira, 19 de março de 2007
A estrela, o filósofo e o louco
"Uma vez eu tomei um ácido e encanei que era a Madalena..." L.C.M.
sexta-feira, 16 de março de 2007
Zero vinteum
Neste final de semana, encontros e entrevistas com Nelson Motta, Ezequiel Neves e Luís Carlos Maciel.
Noites tropicais
Já na década de 70, foi o responsável por festivais de rock históricos do Rio de Janeiro, conviveu com os "friques" Raul Seixas e Paulo Coelho, viu Lulu Santos e Lobão ainda moleques, tocando com o Vímana. E, quando estourou a onda discotéque, criou a boate e a moda de "dancing days", e são dele os sucessos das Frenéticas.
Como se não bastasse, viu o nascimento - se não tiver também ajudado no parto - do rock brasileiro de 80, dos Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana, Blitz. Por falar em Evandro Mesquita, foi um dos roteiristas e criadores da "Armação Ilimitada". E, só para finalizar a década de 80, foi o responsável por descobrir e lapidar Marisa Monte.
Precisa de mais? Toda a história da MPB está contada na visão carinhosa de Nelson Motta, o Nelsinho, em "Noites tropicais". Narrado em primeira pessoa, o livro é um relato passional e pessoal, mas também histórico, da nossa música.
Recomendamos!
quarta-feira, 14 de março de 2007
Torquato Neto: à margem da margem da margem
Torquatália, obra de Paulo Roberto Pires, dividida em dois volume – Do lado de dentro e Geléia Geral, mostra um pouco do gênio, um pouco do insano, um pouco do homem que foi Torquato Neto. Do lado de dentro, primeiro do duo e único que li traz, além de canções, poemas, cartas, roteiros, parcerias, textos, certa transposição do espírito de TN. Íntimo e ao mesmo tempo publicável... Geléia Geral preocupa-se com sua vida jornalística. Reúne textos e referências profissionais do autor.
O homem das grandes parcerias. Da música, do teatro, da poesia, do jornalismo. Uma das cabeças do Tropicalismo. “Escrever já não dá conta das transas do nosso tempo”. Pra entender Torquato Neto, só mesmo com suas próprias palavras.
Tropicalismo para iniciantes:
(...) Assumir completamente tudo o que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra.
Torquatália III
Escolho a Tropicália porque não é liberal mas libertina. A antifórmula superabrangente o tropicalismo está morto, viva a Tropicália. Todas as propostas serão aceitas, menos as conformistas (seja marginal). Todos os papos, menos os repressivos (seja herói). E a voz do outro Brasil canta para você
segunda-feira, 12 de março de 2007
Enfim, o plano!
Geração Bendita/ Cê tá pensando que eu sou Loki, bicho?
A história obscura da psicodelia brasileira
Aline Maria Ridolfi
Ana Paula Tomasinni Canestrelli
Tatiana Kudrjawzew de Mello Dias
4o JO C
Orientador
Prof. Wellington Andrade
Psicodélico
Psico + el. Delo
Psic (o): do grego psukhe.
1. alma, em tempos conexos com a religião e a metafísica
2. Espírito, princípio pensante, atividade mental
Delo: do grego Delos.
Visível, claro, manifesto, evidente
1. Que produz efeitos alucinógenos (p. ex, o LSD)
1.1. Relativo a esse efeito
2. Diz-se da produção intelectual elaborada sob o efeito de um alucinógeno
3. p. ext. diz-se de qualquer produção intelectual que se assemelha ou procura imitar as obras criadas sob efeito de alucinógeno
Louco (adj.): afetado por um alto grau de independência intelectual.
(Ambrose Bierce)
O presente trabalho tem o objetivo de levar ao conhecimento do público um gênero pouco explorado da música nacional: a psicodelia. Serão apresentadas bandas e personagens que constituíam a cena underground no final da década de 60 e início de 70, que se expressavam por meio de uma atitude “psicodélica”. Surgidas em um contexto pós-tropicalista – ou melhor, criadas após o rompimento de padrões sonoros propostos pelo tropicalismo – esses criadores se dedicavam ao rock, aos ritmos regionais e, principalmente, à experimentação sonora.
O trabalho irá contar a história de alguns destes artistas fundamentais para o entendimento do período – mas que, até hoje, permanecem desconhecidos do grande público. Eles participaram de uma cena alternativa que, em sua maior parte, não chegou a eclodir na grande mídia – salvo poucas aparições como acompanhantes dos músicos tropicalistas.
A idéia do tema surgiu quando o grupo conheceu tais bandas e seus discos. Na internet, é possível encontrar blogs e publicações online sobre essa cena – e eles alcançam um sucesso considerável de público. Foi ali que vimos a quantidade de boas histórias ligadas ao gênero, que merecem um tratamento menos folclórico, e mais jornalístico.
A psicodelia brasileira, sem dúvida, começou no tropicalismo. Os maestros Rogério Duprat, mais, e Júlio Medaglia, menos, são os mentores musicais do tropicalismo – e são responsáveis pelo rompimento formal de padrões da MPB. O tropicalismo chocou a ala conservadora da música nacional, e a psicodelia brasileira é conseqüência disso. Se os tropicalistas romperam padrões para incluir guitarras elétricas em seus sons, essas bandas alternativas seguiam o caminho inverso. Elas eram formadas por adolescentes, que gostavam de rock e que não se renderam à ortodoxia do ritmo. Pelo contrário: aprenderam que poderiam incluir novas sonoridades ao som roqueiro já consolidado.
A riqueza dos sons é impressionante – alguns álbuns dessa época foram redescobertos e hoje os LPs originais valem milhares de dólares no mercado europeu. Poucos músicos da época tornaram-se conhecidos hoje, como, por exemplo, Zé Ramalho e Lulu Santos, que foram integrantes de bandas de rock psicodélico. A maioria dos garotos, hoje, são senhores anônimos, com vidas comuns. Alguns enlouqueceram graças à enorme quantidade de drogas ingeridas. Outros morreram. Quase nada sobrou, à exceção da memória das loucuras da época.
É incrível observar a fusão proposta por essas bandas. Talvez este seja o ponto em comum entre todas elas: a experimentação. A sonoridade de cada uma, pelo contrário, é independente de qualquer gênero. Observa-se um estilo base, mas é possível encontrar em um só disco rock, baião, folk, bossa nova e outros sons. As letras também são ponto fundamental em toda esta trajetória. Menções a extraterrestres, drogas ilícitas, cidades do interior, personagens hipotéticas, bandas internacionais, lingeries, demônios e surtos esquizofrênicos, flores que falam... tudo era motivo de composição. É a arte livre. A não-imposição de limites. A quebra de tabus em uma época marcada pela repressão do Estado.
Havia muito mais do que música em jogo. Era um estado de espírito adotado por pessoas diferentes. O modo de se vestir, de viver, de compor, de mostrar a arte em suas apresentações, tudo era marcado fortemente pela característica psicodélica. Enquanto Andy Warhol criava capas alucinadas para artistas internacionais, desenhistas brasileiros faziam obras-primas também em capas nacionais. Mas a loucura era incômoda e a maioria dos artistas envolvidos nesta fase era barrada em gravadoras, ou censurados, na hora de lançar os discos. A maioria fez carreira independente, em âmbito regional.
Muito se falou da psicodelia estrangeira. A era internacional do LSD trouxe à tona faces obscuras de bandas como os Beatles e os Rolling Stones e revelou nomes como The Doors, Jimi Hendrix, Pink Floyd, Steppenwolf, entre outros. O Brasil não ficou de fora do “movimento”. Foi uma época de grande produção artística, especialmente musical. Apesar de pouco conhecido, trata-se de um período extremamente rico; é notável a influência, talvez um pouco camuflada, que os tais músicos têm em relação ao que está no mercado atual, ainda que independente.
Hoje não existe nenhuma publicação específica sobre essa cena. Mesmo que não possa ser chamada de “movimento”, a psicodelia brasileira tem um começo e uma trajetória – que percorre São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Recife, principalmente. E, ao contrário do tropicalismo – que foi extinto oficialmente por seus músicos – ela permanece até hoje, influenciando bandas cultuadas como Júpiter Maçã e Mopho.
O trabalho irá retratar as bandas e personagens que existiram durante um período específico – 1967 a 1975 -, em quatro localidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Rio Grande do Sul. O tropicalismo também será abordado em um capítulo introdutório – entretanto, no livro, a meta principal é contar histórias desconhecidas e fazer o público mergulhar no som e na estética psicodélica.
Escolhemos um formato alternativo que satisfizesse a qualidade da mensagem que pretendemos passar, sem criar ruídos na informação. Um livro-reportagem, com ensaio fotográfico e CD de áudio (com uma seleção de músicas relacionadas às histórias que venham a fazer parte do conteúdo) como acompanhamento. Acreditamos que assim atingiremos nossos objetivos, contando a história, mostrando visualmente as imagens da época, dos envolvidos, do estilo, das capas de discos, dos shows, provando o que falamos com as canções das bandas mencionadas e, acima de tudo, dando liberdade para que o leitor tire suas próprias conclusões a respeito de toda esta experimentação sonora. Com estes três elementos pretendemos fazer com que o leitor tenha a exata noção do que acontecia. Que ele mate a curiosidade que ganhará ao longo das histórias contadas.
2. Procedimentos metodológicos e técnicos
a) Literatura específica
A literatura específica nos ajuda a levantar os personagens do livro e avaliar a importância deles no cenário. Para este trabalho, há dois tipos de literatura: a teórica, onde a contracultura é avaliada por acadêmicos e especialistas (como em “Anos 70: Ainda sob a tempestade”, coletânea de textos do filósofo Adauto Novaes), que nos ajuda a entender o pensamento da época, e a histórica. Esta é fundamental para acompanharmos a trajetória de alguns personagens essenciais na história que contaremos – como Arnaldo Baptista, dissecado em “A divina comédia dos Mutantes”, livro de Carlos Calado. Como não vivemos a época, a literatura nos passa um olhar panorâmico do que foram aqueles anos e, principalmente, do que era para um jovem embarcar naquelas viagens, naquela época.
b) Entrevistas com jornalistas
Assim como a literatura, as entrevistas com jornalistas apresentam um panorama da cena cultural da época. Entrevistaremos alguns personagens fundamentais no jornalismo musical da época – Ezequiel Neves, Nelson Motta, Ana Maria Bahiana, Luiz Carlos Maciel e Fernando Rosa -, que, de certa maneira, têm uma visão global daquela cena musical. Eles conhecem bem os personagens e sabem apontar os artistas mais representativos da época. Por isso, antes de partirmos para as entrevistas com os músicos, é importante termos uma visão geral desta cena em especial. E são essas primeiras conversas que nos proporcionarão isso.
c) Pesquisa de periódicos
Periódicos da época também serão analisados. É a melhor maneira de saber como a mídia cobria a cena e etntar entender os hábitos da época. Além de revistas culturais, como a Rolling Stone brasileira e o Pasquim, pesquisaremos também grandes publicações.
d) Entrevistas com os personagens
- Entre os meses de março e setembro faremos entrevistas com nossos personagens. Partiremos dos tropicalistas Tom Zé, Jorge Mautner e Lanny Gordin.
- Entrevistas individuais e em grupo com os personagens envolvidos, músicos que participaram da psicodelia nacional, parentes e amigos dos escolhidos. Entre eles, Ronnie Von, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, Serguei, Os Baobás, Spectrum, Módulo 1000, Lula Côrtes, Zé Ramalho, entre outros.
- Entrevistas com o público da época. Os fãs dos artistas em questão, pessoas que participaram da psicodelia nacional, como Luiz Calanca, por exemplo, dono da loja e selo musical Baratos Afins.
- Análise e avaliação do material coletado.
e) Pesquisas em gravadoras, catálogos de selos antigos, sebos e lojas de discos
Cronograma de Desenvolvimento:
Fase 1 – dezembro de 2006 a março de 2007
- Leitura das obras escolhidas para pesquisa
- Estudos teóricos
- Pesquisas em jornais e revistas
- Ensaios fotográficos com capas de discos
- Pesquisa de fotos aleatórias da época
Fase 2 – abril a junho
- Entrevistas com músicos, artistas, parentes, amigos, fãs, jornalistas e especialistas
- Ensaios fotográficos durante as entrevistas
- Preparação do material recolhido (transcrição de fitas, tratamento de imagens)
- Requerimento de faixas musicais diretamente com os entrevistados (com cessão de direitos autorais) para o CD
- Estruturação dos capítulos
- Redação dos primeiros capítulos – Entrega do trabalho para qualificação
Fase 3 – julho a setembro
- Redação dos capítulos restantes
- Redação da introdução e agradecimentos
- Escolha das imagens
- Escolha das faixas do CD
Fase 4 – outubro
- Entrega do trabalho para críticas e avaliações de convidados, especialistas e orientador
- Correções/ Revisão
- Edição
- Diagramação, impressão e encadernação das cópias
- Entrega do projeto à Coordenadoria de Projetos Experimentais
Estruturação inicial de capítulos:
A estruturação dos capítulos dar-se-á da seguinte forma:
Capítulo 1: Tropicalismo
A psicodelia brasileira só foi possível a partir da quebra de barreiras realizada pelos tropicalistas. Tom Zé, Jorge Mautner e Lanny Gordin –selecionados por representarem, em sua força máxima, o rompimento de padrões – falarão sobre o tema.
Capítulo 2 em diante: Reconstrução da cena
Foram os tropicalistas que descobriram Os Mutantes – expressão máxima da psicodelia nacional -, Os Baobás e The Beat Boys, entre outras bandas de rock psicodélico. Por isso, começaremos por São Paulo, terra natal da cena. Depois, partiremos para as histórias cariocas, gaúchas e, por fim, a tardia cena pernambucana.
Final: Balanço de influências
Traçaremos um paralelo entre o que aconteceu e a influência que o experimentalismo exerce hoje.
Bibliografia Básica:
BAHIANA, Ana Maria. Almanaque Anos 70. São Paulo: Ediouro, 2006.
NOVAES, Adauto. Anos 70: Ainda sob a tempestade. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2005.
BAHIANA, Ana Maria. Nada será como antes: MPB anos 70: 30 anos depois. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2006.
FERREIRA, Glória. Escritos de Artistas: Anos 60/70. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
BUARQUE DE HOLLANDA, Heloísa. Asdrubal trouxe o trombone: Memórias de uma trupe solitária de comediantes que abalou os anos 70. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2004.
DIAS, Lucy. Anos 70: Enquanto corria a barca. São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2003.
MACIEL, Luiz Carlos. Geração em transe. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
CALADO, Carlos. A divina comédia dos mutantes. São Paulo: Ed. 34, 1995.
DEL RIOS, Jefferson. Bananas ao vento: meia década de cultura e política em São Paulo. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2006.
Arquivos do jornal A Folha de S. Paulo
Arquivos do jornal O Estado de S. Paulo
sexta-feira, 9 de março de 2007
2001
IV Festival de Música Popular Brasileira, 1968. No meio das vaias dos setores mais ortodoxos da MPB, Rita, Arnaldo e Sérgio, todos com cara de criança, se divertem. Sob a supervisão do padrinho Gilberto Gil.
É, Caetano. Os Mutantes são demais.
Obs.: hoje, 9 de março, é o dia da inscrição do pré-projeto para avaliação. Aaaaaahhhhhhhh.
quinta-feira, 8 de março de 2007
Da Wikipedia
Níveis da Experiência Psicodélica
O Psychedelic Experience FAQ (em inglês) descreve cinco níveis da experiência:
Nível 1:
Aumento das capacidades sensitivas (principalmente visuais), tornando as cores mais "brilhantes". Ligeiras anomalias na memória de curto prazo. Mudanças na comunicação entre ambos os lados do cérebro, tornando a música mais expressiva.
Nível 2:
Cores realçadas, ligeiras alucinações visuais (ex. objetos se movimentam ), desenhos parecem adquirir terceira dimensão. Pensamentos confusos; considerável aumento das capacidades criativas.
Nível 3:
Alucinações visuais claras, tudo parece curvado ou alterado em outros aspectos, caleidoscópios ou imagens fractais vistas nas paredes, paisagens, imagens de pessoas, etc. Alucinações com os olhos fechados se tornam tridimensionais. Há alguma confusão entre os sentidos (ex. o indivíduo começa a "ver os sons como cores"). Distorções na percepção temporal e "momentos eternos". Movimentação corporal se torna extremamente difícil (muito esforço necessário).
Nível 4:
Alucinações extremamente fortes (ex. objetos se fundem com outros). Destruição ou divisão múltipla do ego (ex. objetos parecem conversar com o indivíduo, ou este começa a sentir sensações contraditórias simultaneamente). Alguma perda da realidade. O tempo perde seu significado. Experiências extra-corporais. Fusão dos sentidos.
Nível 5:
Total perda de conexão visual com a realidade. Os sentidos deixam de funcionar em seu estado normal. Total perda da noção de ego. Sensação de fusão do indivíduo com o espaço, outros objetos, ou universo. A perda da realidade torna-se tão severa que desafia sua expressão verbal. Os primeiros estágios são relativamente fáceis de se explicar em termos de mudanças mensuráveis de consciência e padrões cognitivos. Este nível é diferente porque o universo no qual as coisas são normalmente percebidas deixa de existir.
Fonte: Wikipedia
terça-feira, 6 de março de 2007
A divina comédia
Terminei ontem de ler "A divina comédia dos Mutantes", de Carlos Calado. E estou com dor no coração até agora. Escrito em 1995, o livro termina tão melancólico, que você fica lendo até a última página para saber se não tem algo a mais. Na época, o autor sonhava com uma possível volta dos Mutantes - o que aconteceu, pra nossa sorte, neste ano. E nem venham falar de "caça níqueis", porque a volta foi honesta e deixou todos felizes.
O livro começa contando a história dos irmãos Dias Baptista, Cláudio, Arnaldo e Sérgio. Cláudio era o "professor Pardal" do bairro e, futuramente, construiria os míticos aparelhos de som do grupo. Arnaldo dispensa apresentações: tomou a liderança e embarcou, desde cedo, na música. E Sérgio Dias era um pivete que ganhava de todos nos duelos de guitarra. Eles conheceram Rita Lee em um festival de bandas adolescentes. Arnaldo e Rita, desde cedo, foram namoradinhos.
Depois de apresentarem-se no programa do Ronnie Von, "O pequeno mundo de Ronnie Von", foram batizados e conheceram Gilberto Gil - que os apresentou ao mundo da tropicália, com Caetano, Rogério Duprat, e outros. Eles eram o braço elétrico do tropicalismo - e, com o carisma do trio, foi fácil caminhar com as próprias pernas. Fizeram shows por todo o país, eram garotos-propaganda, participavam de inúmeros programas de tv. "Os Mutantes são demais!", disse Caetano Veloso.
O engraçado é que o grupo se sustentava em cima da frágil relação amorosa de Arnaldo e Rita. Chegaram a se casar, mas rasgaram a certidão ao vivo no programa da Hebe. No auge hippie - quando Antônio Peticov lhes apresentou o ácido, em Paris, e eles se mudaram para a Cantareira - eles tomaram contato com o "amor livre". E, a partir disso, a relação definitivamente se estremeceu.
Sempre doidões, e cada vez melhores instrumentistas, os Mutantes - aqui, Arnaldo, Sérgio, Dinho (bateirista) e Liminha (baixista) se dedicavam ao rock progressivo, mais complicado, com solos longos e complexos. Um dia, Sérgio encontrou Rita saindo com cara de choro da Cantareira. E ela disse "o Arnaldo disso que não tem mais espaço pra mim na banda". Depois, foi o próprio Arnaldo que saiu, quando quis tocar de graça em um festival hippie em Minas. E esse foi o melancólico começo do fim.